Friday, February 09, 2007

 

O sári


Foi então que comecei a sonhar que eu vestia um sári. Toda noite, durante uma semana, em sonhos eu colocava meu sári, passo a passo, exatamente como vira minha sogra fazer. Da direita para a esquerda, começando pela frente, eu sonhava que ia me enrolando, preparando as dobras nos lugares certos com trejeitos copiados da Surya, até terminar com o comprimento exato de tecido pousado sobre o ombro esquerdo.

Quando por fim pude vestir meu sári, surpresa: foi como se houvesse feito aquilo todos os dias da minha vida. Meu noivo ficou impressionado. A saia caía por igual até um centímetro do chão, sem pontas arrastadas ou curtas demais; as dobras estavam nos lugares certos, sem engruvinhar nos quadris; a ponta sobre o ombro começava certinho na marca do bordado. Mesmo sem “prática” no mundo real, eu já aprendera o procedimento: meu cérebro havia treinado em sonhos.




É isso o que a neurociência hoje comprova: o sono, incluindo o período de sonhos, é para o cérebro um período de aprendizado intensivo, e não exatamente de descanso. O caminho até a comprovação foi longo, mas não por falta de idéias sobre a importância do sono. Alguns cientistas acreditavam, e continuam acreditando, que o sono serve para reforçar circuitos que cuidam dos comportamentos mais básicos e inatos dos animais, como andar e caçar. Outros supõem que ele deve servir para apagar memórias desnecessárias, “fazendo espaço” no cérebro para que ele aprenda coisas novas no dia seguinte. Outros, ao contrário, acham que o sono é necessário para que o aprendizado se cristalize na forma de modificações permanentes no cérebro. Para esses, o sono seria a oportunidade de o cérebro “fechar para balanço”, rever os acontecimentos importantes dos últimos dias, reforçar esses registros, e passar a limpo anotações recentes – exatamente como estudantes fazem com seus rascunhos.


É esta a idéia que vem ganhando força nos últimos dez anos, a partir da descoberta de que é necessária uma noite de sono – e com sonhos, mesmo que eles não sejam lembrados – para o cérebro consolidar o que foi aprendido durante o dia. Sem sono, nada feito: qualquer esforço diurno de aprenzidado é desperdiçado. Os efeitos benéficos do sono para o aprendizado provavelmente vêm da alternância de ciclos de sono com e sem sonhos ao longo da noite. Talvez o sono sem sonhos sirva como um “restaurador” do funcionamento do cérebro exaurido ao longo do dia, e pré-requisito para que na fase seguinte, com sonhos, ocorram as modificações necessárias nas conexões entre os neurônios – as sinapses – para que o aprendizado se instale de modo permanente.



O sono, completo com sonhos, parece ser tão eficaz como período de passar a limpo anotações temporárias feitas pelo cérebro que um ciclo completo de pouco mais de uma hora já traz benefícios ao aprendizado do dorminhoco. Sonecas diurnas, tantas vezes consideradas sinal de preguiça, hoje são uma maneira cientificamente comprovada, e quase tão boa quanto uma noite inteira de sono, de ajudar o cérebro a aprender – desde que elas sejam longas o suficiente para incluir uns bons 20 minutos de sonhos.


Mais do que simplesmente passar a limpo o que começou a ser aprendido durante o dia, no entanto, os sonhos são um grande tubo de ensaios para a mente. Hoje já se sabe que a imaginação recruta as mesmas regiões do cérebro ativadas por sensações “verdadeiras”, vindas de fora. E o mesmo acontece durante os sonhos. Portanto, o que se vê e se sente durante os sonhos, incluindo emoções, são para o cérebro tão reais quanto tudo o que vem de fora quando se está acordado – e com um bônus adicional: sonhando, vale tudo. Primeiro, porque os sonhos são absolutamente privados; e segundo, porque o cérebro tem um mecanismo que bloqueia praticamente todos os movimentos do corpo durante os sonhos, o que garante por exemplo que ninguém vai revelar segredos ditos em sonhos, nem sair chutando o parceiro na cama se sonhar com um ladrão. Por isso, em sonhos é possível ensaiar reações a boas e más notícias, se acostumar com a idéia de uma prova temida, treinar um concerto de piano ou um pedido de casamento ou se abandonar a fantasias sexuais as mais ousadas, sem sofrer conseqüências… e até praticar como enrolar um sári ao redor do corpo. Enquanto isso o cérebro, aparentemente desligado e descansando, anota tudo furiosamente; ao despertar, depois de tanto treino, os dedos encontram habilmente sua posição na seda.


E como desenrolar um sári após o uso? Ah, fácil. Isso qualquer namorado, noivo ou marido descobre rapidinho. Nem é preciso sonhar para aprender…

http://suzanahh.typepad.com/suzanahh/2006/10/como_vestir_um_.html#comment-60070790

Comments:
Quando tinha uns treze anos vesti um sari semelhante ao de baixo à esquerda, para um desfile. Foi o máximo!

beijinhos e bom fim de semana
 
Usei um uma vez pelo Carnaval quando era pequenina :)
São lindos!
Tenho uma admiração enorme pala cultura Indiana.

beijos
 
Passei aqui só para te dizer que fiquei feliz pela visita volte sempre que quizer,as portas estarão sempre abertas para você.Nunca usei mas são lindos.


Um abraço.
 
Os sonhos nem sempre fazem parte das recordações da manhã, mas muitas vezes acordo mais cansada do que me deitei. Na verdade tenho sempre que dormir imenso, e estar 5 minutos acordada já é insónia.

Os saris... bem esses fazem parte da imaginação feminina com toda a sua sensualidade.
Beijos.
 
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