Tuesday, April 10, 2007

 

Cultura da Paz e da não violência

Eu estava em Nova Delhi, na Índia, no dia 30 de janeiro passado. Era o dia Memorial de Mahatma Gandhi. Corria sozinha pelas ruas próximas do hotel e numa rotatória vi o pôster grande, com a foto de Gandhi, anunciando um Seminário sobre Cultura de Paz, Não violência e empoderamento.
Parei para cumprimentar o sol que despontava. Dourado.
Empoderamento – talvez essa seja a maior dificuldade atual da Índia, pensei eu. Pessoas acomodadas na pobreza, na desigualdade, na injustiça.
Onde estariam os ricos? Em que bairro moram os de classe média alta? Como são suas casas, seus seguranças, seus jardins, sua água?
Coberta de terra e cinza a Índia liberta continua aprisionada. Não há violência e há violência. Há paz e não há paz.Empoderamento. Dar poder. O poder de exigir seus direitos de forma não violenta. Restituir a dignidade da vida em cada ser vivo. Quem tirou o poder das pessoas? O poder de escolher, de decidir, de sentir, de pensar? O poder de estudar, trabalhar, compartilhar, cooperar? O poder de viver e de morrer com dignidade.
No Rio de Janeiro meninos apressados num assalto mal planejado arrastam outro menino morto-vivo em meio aos gritos de quem ainda grita. Tantos silêncios silenciados pelo medo.
Vítimas todos da violência, que já não a percebemos violenta.
Nas margens do Rio Ganges, na cidade de Varanasi – sagrada cidade – cachorros de rua, inúmeros cachorros nas ruas da Índia, cachorros de todas as idades – comiam o corpo de um menino morto que o rio regorgitou em uma de suas margens. Crianças não são cremadas, são jogadas no rio sagrado, com uma pedra a elas amarrada.
Era apenas o que era. Ao lado uma vaca entrava na água, dois jovens lavavam suas roupas batendo na pedra vermelha.
Nosso corpo é comida para cães famintos. Somos alimento na cadeia alimentar.
Quando nos lembramos disso?
Saneamento básico. Não jogar cadáveres nos rios. Não evacuar, não urinar nas águas que usamos para beber, lavar, banhar, comer. Parece tão simples. Não jogar ácido nos rios. Não envenenar a terra. Não poluir o solo. Não matar as matas, que sem elas não vivemos.
Sobreviventes em um planeta que dilaceramos, violentamos, mal tratamos. Assim como fazemos com as crianças, com as mulheres, com os idosos, com os diferentes, com os excluídos.
No portão um morador de rua agradece um pequeno alimento. Cheira a álcool. Irmão menor. Sua mão inchada está cheia de cachaça. Como a lua cheia de graça.
E o meio ambiente é este, que começa neste corpo recoberto de pele por dentro e por fora. Nossa pele que reveste esqueletos queimados ou enterrados. Nossa pele cheia de grama e ervas daninhas. Espinhas. Nossa pele que fede e se perfuma. Nossa pele de cores diversas e texturas. A pele da Terra – mãe que dá vida e se desgasta na sua superfície mais fina. Afirma a aliança da eternidade em cada instante perene. Transformando. Somos a vida da Terra. Somos o Caminho. Somos a Verdade.

Acorda. Compartilha. Cuida. Coopera.
Constrói comigo, conosco, uma nova maneira antiga de Interser. Paz. Cultura de Paz e de Não violência. Empoderamento. Somos o Caminho. Que senda construímos com nossos pensamentos, gestos, palavras? Ilusão. Desilusão. Acorda. Ainda é tempo. Redescobre seu papel neste cenário que não é cenário é realidade.Cuida.Coopera.Compartilha.Riquezas e pobrezas. Rio corre sagrada vida. Percebe criança que você tem o direito de viver, de sorrir, de comer, de beber, de estudar, de trabalhar, de cuidar e de respirar. Direito e dever de brincar, amar, compartilhar.
Terra me permite um gesto de humildade, abaixando e a beijando com ternura- minha própria face.
Mãos em prece
Monja Coen
http://www.monjacoen.com.br/cultura_de_paz.html

Comments:
Wicky, li este texto com muita atenção... e foi como se tivesse passado pelo meio de uma tempestade de emoções, que perduram. Foi um abalo de consciência, foi um, mais um, apelo à nossa capacidade de realizar o quanto se sofre neste mundo de "empoderamento".
Tantos paradoxos! Tantas situações inimagináveis! Tão longe e tão próximas... Que vai ser de nós?
É a minha pergunta, e não uso o pêndulo há algum tempo, só porque temo as respostas, amiga...
Um abraço

Ps: não sei porquê, tenho tido muita dificuldade em comentar aqui, calhou hoje correr bem. Bj
 
Olá Wicky:

Gostei muito de ler este texto, bem elucidativo do que a humanidade não deve fazer... e do que deveria fazer.
Desejo-te uma óptima semana.
 
Tanta coisa boa e ma a acontecer aqui e ali e tão diferente, de todos os horizontes... porque é preciso de tudo para se fazer um mundo :)
 
http://www.religarecomadeusa.blogger.com.br/
 
meg

acho que não devemnos temer as respostas
devemos saber escutá-las !!

um beijo para ti
 
mostardinha

achei tb este texto lindissimo, actual, determinante do que n~ao devem ser as nossas atitudes .

Um abraço
 
elite

são as contradições e os contrastes deste mundo
enquanto uns vivem na opolencia degustando manjares divinais....outros petiscam cadáveres e banham-se ao lado de vacas sagradas que fazem os dejectos no mesmo rio, também ele dito sagrado
um beijo para ti
 
Impressionante. Dói.
 
Quando o germe da violência existe, ele manifesta-se em tudo e qualquer coisa: contra os outros, contra si próprio, contra o meio ambiente. A miséria e a desigualdade vêm por acréscimo (ou em paralelo)...

Não podemos ser bombeiros de todos esses fogos, mas podemos fazer o que está ao nosso alcance: se acreditamos na energia do pensamento e da palavra, sirvamo-nos deles, quer para os que estão longe, quer para os que nos rodeiam (a começar por nós próprios).
Agir também é preciso, mas têm mais efeito quando a Paz e o Amor vêm de dentro, do coração e da mente.

"Que senda construimos com os nossos pensamentos, gestos, palavras?" - pergunta de Coen, que eu reitero, já que não basta lamentar o estado do mundo.

Um abraço.
 
Um texto forte... talvez seja uma das maneiras de nos tocarmos. Mas não basta sentir estas emoçoes dentro de nós e ficarmos a lamentar a situação. Isso só piora as coisas. Há que fazer algo, que pode até não ser dificil: mudarmos a nossa forma de sentir, a nossa forma de falar, transformarmos as nossas tristezas preocupaçoes em algo de bom, em esperança, em amor, em paz, em fé... Beijinhos
 
m

este texto dói, sim
mas temos de o ler até ao fim, para encontrar outros caminhos , como diz a monja
 
margri

tens razão
podemos fazer o que está ao nosso alcance: se acreditamos na energia do pensamento e da palavra, sirvamo-nos deles, quer para os que estão longe, quer para os que nos rodeiam (a começar por nós próprios).
é isso que faço muitas vezes, porque nem sempre as palavras são necessárias para contribuirmos com a nossa ajuda para melhorar o mundo
 
eumulher

a monja o diz

...para encontrarmos o caminho, transformarmos o mundo...
Assim será.
 
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