Saturday, March 01, 2008

 

Semana da Mulher - Simone de Beauvoir



quando passam cem anos sobre o nascimento de Simone de Beauvoir (1908-1986) - emblemática figura do feminismo, da literatura e do pensamento franceses -, fala-se mais da companheira de Sartre e da singular "relação aberta" deste casal lendário do que da intelectual; da sua sexualidade do que do relevante legado romanesco, memorialístico, filosófico e ensaístico.
Tendo atravessado quase toda a história do século XX, Simone de Beauvoir escolheu um destino, movida pela necessidade de fazer "triunfar a liberdade sobre a necessidade".
O Segundo Sexo (1949), escrito na perspectiva da moral existencialista, valeu-lhe, todavia, a condenação da maior parte dos intelectuais conservadores franceses, homens e mulheres - católicos, protestantes, comunistas. Ingrid Galster recorda-o, em Le Deuxième Sexe de Simone de Beauvoir, lembrando que os ataques visavam também Sartre, autor "perigoso" desde Le Mur. Vendo uma mulher, à beira de entrar na década de 50, referir-se à "sensibilidade vaginal", ao "espasmo clitoridiano" e ao "orgasmo masculino", não só Camus ficou em fúria, como muitos outros homens. O católico François Mauriac escreveria, então, numa carta a Roger Stéphane, esta frase repugnante: "Aprendi muitas coisas sobre a vagina e o clítoris da sua patroa."

Estavam, em causa, na época, temas tão polémicos como a liberdade da mulher, a maternidade, a educação, o parto sem dor, o aborto, o adultério, a frigidez, o divórcio, a prostituição, respondendo O Segundo Sexo às inquietudes do momento com o célebre aforismo: "Não nascemos mulheres, tornamo-nos mulheres." A pensadora de Pour une Morale de l'Ambiguïté (1947) não só é a primeira a elaborar uma crítica sistemática de Freud no âmbito da teoria feminista, como a defender que a feminilidade tem origem em estruturas sociais, antecipando, em mais de 20 anos, aquilo que viria a ser uma das questões centrais do feminismo da segunda vaga: igualdade/diferença.
No estilo rigoroso, por vezes impiedoso, que adopta no romance, Simone de Beauvoir escreve sobre mulheres de espírito delirante, convidando-nos, segundo Kristeva, a "singularizar a política e a politizar o singular". É impossível não a ver como a impulsionadora de uma mutação antropológica que esteve à frente do seu tempo ao encarnar uma filosofia política da liberdade interior.
daqui

publicação conjunta com greentea

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