Monday, June 22, 2009
solsticio no Marão
SOLSTICIO DE VERÃO - 2009
Divagações
Na base dos ancestrais conceitos religiosos figuravam os Solstícios como marcos evocativos, associados ao culto solar. Hoje, muito desfasados da magia inicial, olhamos o tempo como algo rectilíneo ou linear. Os nossos antepassados viam-no em circular ou cíclico e exprimiram-no através de símbolos, que a cultura celta e a lusitana perpetuaram.Trata-se de um fenómeno transversal a diferentes culturas profundamente enraizado desde as festas pagãs Persas e Hindus, associada a Mitra enquanto símbolo do Sol vencedor. É um momento essencial à vida cósmica em que tudo está ligado. No preciso e único momento em que o Sol pleno no máximo do seu poder se une com a Deusa Terra, que no seu ventre porta a vida, os alimentos e o bem-estar. É breve o momento de celebração, pois quando o Astro Rei, no seu movimento aparente na esfera celeste atinge o seu ápice, começa de imediato o seu declínio.
(…)Hoje festejamos a plenitude das forças, o tempo da colheita das ervas mágicas e medicinais, a tradição dos banhos nas fontes, poços e riachos, como simbolismo do baptismo primordial, da limpeza interna e externa. Com efeito as águas das noites do Solstício são mágicas e poderosas e benzida para as gentes e os animais.
É também o tempo do poder dos sonhos propiciador do pedido de desejos de fortuna, de saúde, de energia e de comunhão com os outros. Está mais evidente a pujança da vida e a nossa energia está no máximo.(…)O Solstício tem e sempre teve uma associação directa com o fogo que se configura como outro elemento de purificação, permitindo a libertação dos infortúnios e da negatividade que muitas vezes transportamos.Tendo a sua origem Indo-europeia, o culto dos solstícios mantém ainda hoje uma forte presença em todos os países da Europa.
(…)Porquê o Solstício do Marão?
Os nossos antepassados aceitaram os cultos dos Celtas e dos Romanos. Existiam milhares de deuses, pois tudo na natureza era divino e sagrado. Desse período restam cerca de 100 divindades atestadas por inscrições em aras. Alguns eram solares, outros guerreiros…. Refira-se Endovélico (javali, berrões, sabedoria…) Brigo, Bandua (contexto regional), Durius e Reva Maranus que fazem as nossas fronteiras simbólicas. Esta última divindade estava associada aos grandes vultos, ao poder, ao domínio, às alturas… Era ele que tocava o céu, o primeiro a receber a luz divina do sol e era ele que o escondia. Dele chegava a chuva e os ventos ou o protesto irado dos seus trovões.
Quando olhado de longe personifica a muralha protectora, a fronteira pétrea. Serra negra e eterna, de inverno cobre-se como um altar de bragal com a chegada das neves. Umas vezes tem a figura de uma velhinha deitada com os seus longos cabelos e, de outra perspectiva é um gigantesco cardeal de cartola.
Finalmente, era uma divindade que por magia produzia metais e água. E nela como noutros locais de antigos cultos existe uma ermida erigida à Sra da Serra que se comemora daqui a 15 dias, no período do Solstício. De lá tudo se vê e se interiorizarmos os elementos poderemos olhar e ver para dentro de nós.
Alberto Tapada
texto e fotos daqui